MARIA BLANCA HERNANDO

MARIA BLANCA HERNANDO


O texto a seguir foi publicado originalmente no livro "Sultaque - Identidade Cultural - Sotaque Curitibano"

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Zilá Maria Walenga Santos

MARIA BLANCA HERNANDO

Imigrante espanhola, 79 anos

Maria Blanca Hernando, esposa de Saturnino Hernando Gordo, veio para o Brasil com sua família em 1952, com 13 anos de idade. Conta que a viagem durou 16 dias e lembra que foi em um navio de guerra que transportava soldados. As acomodações eram divididas por alas masculina e feminina, com cerca de cem pessoas em cada. O navio se chamava “Entre Rios”, que está em exposição em um museu naval em Buenos Aires.

Quando a família saiu da Espanha, a situação econômica do país, que também sofreu fortes impactos da 2ª Grande Guerra Mundial, já estava mais amena, com o General Franco novamente liberado. Porém, não havia condições socioeconômicas para continuarem lá. Então a família imigrou para a América do Sul, com a intenção era ir para a Argentina.

Maria Blanca lembrou que seu pai olhava no mapa e traçava com o dedo um caminho do Brasil para a Argentina, ele achava que dava até para ir a pé. Riu disso pois, chegando aqui, além dessa suposição estar longe da realidade, alguns fatos subsequentes dificultaram esse intento – eles necessitavam de uma Carta de Chamada da Argentina, documento que o pai deveria obter no Consulado da Argentina em Paranaguá. Ele foi um dia para a cidade do litoral paranaense e o consulado estava fechado, pois Eva Perón havia falecido. Voltou decidido a ir novamente, o que fez outro dia, mas estava tudo fechado porque era feriado em Paranaguá. Ele desistiu e resolveu ficar em Curitiba mesmo.

Casou-se aos 20 anos com Saturnino, também espanhol que imigrou para o Brasil em 1959, e vive com ele há 55 anos. Tiveram um filho e uma filha.

Dificuldades com a língua portuguesa

Em Curitiba, Maria Blanca conviveu com a comunidade espanhola – adultos e muitas crianças. Veio alfabetizada em espanhol e não frequentou a escola na cidade, uma das razões por ter encontrado muitas dificuldades em aprender o português. Ainda fala o português com dificuldades, misturado ao castelhano, um portunhol. Não perdeu seu sotaque pátrio, mas disse que sempre foi muito compreendida pelas pessoas. Quando não entendiam, pediam para que tentasse se expressar melhor, e assim se fazia entender.

Ela disse ser muito agradecida ao Brasil por tudo o que lhe trouxe de alegrias e realizações. “É um país grande e acolhedor, sempre foi muito bem tratada pelas pessoas. Ao longo de minha vida, sempre me senti feliz aqui”, revelou.

Preservação da cultura

A missão do Centro Espanhol do Paraná é a de manter viva as tradições da Espanha, através dos imigrantes, seus descendentes e simpatizantes. E a família Hernandez Barco atua firmemente neste propósito, mantendo no Centro Espanhol do Paraná as tradições culinárias, suas músicas e danças por meio dos seus grupos folclóricos, que compreendem as três casas: Casa de Andaluzia, Amigos de Aragon e Casa de Galícia.


Imigração e a Sociedade Espanhola: a imigração espanhola chegou ao Paraná em três ondas migratórias. Mas foi na década de 1950 que um número significativo de espanhóis desembarcou no estado para escrever sua história. A grande maioria radicou-se na capital. Mas sentiam a necessidade de ter um lugar para reunir-se e que, ao mesmo tempo, fosse ponto de referência para o imigrante que chegava. Fundou-se então a Sociedade Espanhola, localizada na Rua João Negrão, em frente à Rodoviária Guadalupe, ponto de chegada em Curitiba de todo imigrante naquela época. Em 1967, a sociedade fecha suas portas para ressurgir em 1969, quando foi fundada a sede atual do Centro Espanhol, no bairro Prado Velho, com a intenção de divulgar os costumes, tradições e toda a cultura da Espanha. Através de doações dos sócios, a nova sede é inaugurada em 1973. Hoje, o Centro Espanhol do Paraná de Beneficência e Cultura é um ponto de referência para a imigração espanhola. Mantém um grupo folclórico com danças típicas das regiões de Andaluzia, Aragón e Galícia, além de uma Cia. de Dança Flamenca. Realiza festas típicas espanholas para a comunidade e simpatizantes. Congrega em sua sede casas regionais reconhecidas pelo Governo Espanhol, mantendo-se assim sempre informada das atualidades da Espanha.

Fonte: https://www.centroespanhol.com.br/our%20stor